quinta-feira, abril 16, 2009

Sonhos e Pesadelos ! Pedro Demo, 2009

Leituras em dia!!

" Ao mesmo tempo que as novas tecnologias avançam freneticamente sobre educação, muitos educadores se retraem e mesmo resistem, sob o espectro de um pesadelo. Hassan (2008), discutindo a “sociedade da informação” de uma perspectiva crítica, propõe em seu quadro teórico de referência esta disjuntiva entre sonho e pesadelo. Visivelmente, o campo está marcado por grandes entusiastas e grandes resistentes (Tapscott, 2009. Setzer, 2002; 2008; 2009. Stoll, 1999), complicando-se as coisas ainda mais porque a nova geração adora as novas tecnologias: como sugere Prensky (2001), as crianças são “nativas”, enquanto os adultos são “imigrantes”. Esta distinção, porém, é contraditada por outros (Owen, 2004), que não admitem ser a nova geração uma “nova espécie”, como insinuam Veen & Vrakking (2006) com sua obra sobre o “homo zappiens”.

Não alcanço resolver esta polêmica. Busco neste texto apenas analisar estilos de argumentação a favor e contra, para assinalar que os extremos não são adequados, quando a análise se torna apologia a favor ou contra. Proponho o “olhar do educador”, naturalmente crítico e compreensivo. Torna-se cada vez mais difícil sustentar que os pais sabem o que é melhor para os filhos, porque estes, crescendo em ambiente tecnológico vibrante, possuem habilidades e expertises que os pais não têm ou não conseguem acompanhar no mesmo passo. Tapscott (2009) relata uma experiência de jovens designados, após preparação devida, a formar seus professores em novas tecnologias, invertendo, de certo modo, os papéis. De fato, os autoritários sempre sabem o que é melhor para os outros, inclusive para os filhos, retirando-lhes a oportunidade de se tornarem capazes de decidir com argumentos, não sob autoridade. No entanto, também é apressado descartar a experiência dos mais velhos, já que as crianças correm riscos mais que reais na internet e no mundo virtual em geral. Praticamente todos reconhecem que novas tecnologias são “ambíguas”, indicando com esse termo que servem para o bem e para o mal. Por isso mesmo, não cabe ver só o bem ou só o mal.

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Mas é, isto sim, possível argumentar em favor de procedimentos que não comprometam o desenvolvimento físico e mental das crianças, porquanto o mundo virtual não substitui o real, e vice-versa. Parece-me fora de lugar, para dar um exemplo, proibir que crianças acessem a internet, por mais que corram aí riscos alarmantes. Primeiro, porque - todos os educadores sabem - educar é sempre preferível a proibir (também porque o que é proibido é mais atraente). Segundo, porque internet é fato consumado: é melhor saber usar inteligente e eticamente, do que impedir o acesso. A criança pode não usar em casa, mas dificilmente deixará de acessar fora dela, à revelia dos pais e com tanto maior picardia. Terceiro, porque a internet pode representar oportunidade fundamental na vida da criança, desde que inserida em ambiente educativo adequado. Assim, a tarefa de pais cuidadosos não é impedir o acesso, mas montar um ambiente educativo que configure o acesso de maneira a estimular aprendizagens efetivas.

No entanto, se há donos da verdade entre os críticos, os há também entre os basbaques. Assumindo no fundo o determinismo tecnológico, saúdam todas as mudanças por atacado, deixando de levar em conta a história, a cultura, as identidades, as expectativas. Não percebem que mudança tem dono, em especial o mercado, que trata de fazer dos usuários consumidores assíduos e não reflexivos. Cabe, então, o olhar do educador: cauteloso, crítico, sempre confiante. Não faltam pesadelos nas novas tecnologias, como não faltam sonhos." Pedro Demo, 2009.

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